A cardiologia é a especialidade médica que avalia e trata o coração, cuidando de condições médicas que apresentam, muitas vezes, riscos de vida que afetam grande parte da população. Dentre as demandas mais comuns, estão a insuficiência cardíaca congestiva, arritmias, problemas valvulares, hipertensão e doença arterial coronariana. Os tratamentos podem ser farmacológicos ou intervencionistas, sendo que os procedimentos exigem destreza manual desse profissional. É grandemente necessário que o médico cardiologista tenha conhecimento aprofundado da anatomia e fisiologia do coração, além de dominar os procedimentos técnicos.
A origem da especialidade antecede seu reconhecimento como especialidade e está atrelada à curiosidade do homem em estudar e descobrir o funcionamento de tal órgão. Os primeiros registros de tal interesse foram chamados de protocardiologia, já que o prefixo proto remete ao que vem primeiro ou anterior.
Leonardo da Vinci registrou observações, desenhos e anotações sobre o coração, realizando representação gráfica das coronárias, explicação da dinâmica do fluxo cardíaco e definiu a formação das cúspides da valva aórtica e parede sinusal. Tais registros são considerados os pioneiros no estudo do coração e aconteceram em 1490.
Os estudos sobre o coração passaram por diversas etapas de desenvolvimento, sendo que, no início, devido à importância do órgão ao funcionamento do corpo e também às representações culturais associadas a ele, só poderia ser estudado após o falecimento de alguém. Muito tempo se passou até que médicos pudessem estudar o coração de um paciente ainda com vida.
O desenvolvimento de dispositivos tecnológicos que permitiram estudar e compreender o sistema cardiovascular foram fundamentais para essa mudança. Dentre os dispositivos, podemos destacar o estetoscópio e o eletrocardiograma que abriram espaço para o desenvolvimento de inúmeros estudos e interpretação da fisiologia cardíaca, associado à semiologia cardíaca.
Foi com o crescimento da compreensão do funcionamento do coração e suas doenças que a cardiologia tornou-se uma especialidade autônoma e bem definida, separada da clínica médica no início do século XX. Avanços técnico-científicos no pós-guerra contribuíram para que a cardiologia estivesse preparada para se solidificar como especialidade e para utilizar o conhecimento da fisiopatologia para buscar novos tratamentos que aumentaram a sobrevida de pacientes com cardiopatias.
No Brasil, alguns médicos estudaram e publicaram sobre o coração antes mesmo da cardiologia ser uma especialidade separada da clínica médica. Carlos Chagas não era cardiologista, mas, como pesquisador de doenças tropicais juntamente de seus colaboradores, diagnosticaram a Doença de Chagas e realizaram um estudo científico pioneiro no Brasil de grande contribuição para a cardiologia mundial.
Após o desenvolvimento da cardiologia no Brasil, com a chegada de eletrocardiógrafos e cursos de eletrocardiografia, a especialidade foi consolidada com a criação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em 1943. Foi a primeira especialidade a tornar-se disciplina nas universidades e hospitais de ensino, além de iniciar a prática de credenciar títulos dos especialistas.
Referências:
BÜNGELER, W. Evolução histórica da cardiologia no Brasil. Arq. bras. cardiol, v. 46, n. 6, p. 371-386, 1986.
FREEMAN, B. S. The ultimate guide to choosing a medical specialty. 4th edition. New York: McGraw- Hill Education, 2019.
MESQUITA, E. T.; SOUZA, A. L. A. D. A. G. D. A cardiologia e o cardiologista – Ontem, hoje e amanhã. Arq. bras. cardiol, v. 113, p. 335-338, 2019.
