Com o nome derivado do termo grego “Psyché”, a psiquiatria é a especialidade médica que cuida de distúrbios comportamentais do ser humano, que podem gerar sofrimento e prejuízo funcional. Compete a essa área a prevenção, diagnóstico, reabilitação e tratamento de transtornos mentais, com o objetivo de devolver ao paciente a qualidade de vida.
Alguns dos transtornos que são de manejo da área do médico psiquiatra são transtornos de neurodesenvolvimento, depressivos, de ansiedade, bipolares, dissociativos, disfunções sexuais, entre outros. Essa especialidade está bastante associada a um trabalho em conjunto com outras áreas da saúde, como psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, fonoaudiólogos e também com o serviço social. Assim, uma das habilidades requeridas por essa profissão é a capacidade de trabalhar com uma equipe multiprofissional para um melhor cuidado do paciente.
A doença mental começou a ser tratada como uma questão médica no século XVII, com a criação de hospitais para alocar os chamados “loucos”, juntamente com outros grupos que eram excluídos do convívio em sociedade. Antes disso, a compreensão dessas doenças dependia da época inserida: os gregos possuíam uma visão organicista; já na Idade Média, como manifestação de demônios. No entanto, a psiquiatria surge no século XVIII com Philippe Pinel, que passou a considerar a alienação como doença e a observar sistematicamente o doente, criando ambientes de institucionalização e cura: os manicômios. Pinel defendia que o tratamento deveria ser moral, com rotina rígida, respeito às normas e desencorajamento a atitudes inconvenientes.
Com o passar do tempo, já no século XIX e início do século XX, os métodos de Pinel foram sendo distorcidos e os manicômios passaram a ser ambientes de reclusão social, e os tratamentos passaram a ter medidas físicas. A partir de 1960, o italiano Franco Basaglia passa a revolucionar o campo da psiquiatria ao combater os métodos tradicionais que utilizavam de castigos físicos e procedimentos invasivos, e defender tratamentos que previam a reinserção do doente na sociedade. Seu trabalho foi tão importante que passou a ser referência para a Organização Mundial de Saúde.
O primeiro hospital psiquiátrico surgiu no Brasil em 1853, no Rio de Janeiro, o chamado Asilo Pedro II, baseado nos modelos europeus. A partir da década de 1930, houve a descoberta de procedimentos como a eletroconvulsoterapia e a lobotomia, e o surgimento de psicofármacos. Dentro desse contexto de institucionalização e surgimento de novos tratamentos que prometiam curar as doenças mentais, o doente mental passa a ser sujeito de estudo, submisso e sem autonomia, muitas vezes em situações precárias e insalubres.
Fundada no ano de 1966, a Associação Brasileira de Psiquiatria teve grande contribuição para o desenvolvimento público e social da especialidade, assim como a divulgação científica da área e a busca por um atendimento cada vez mais horizontal. Inspirada nos moldes italianos, a reforma psiquiátrica em nosso país teve seu início na década de 70, com inúmeras denúncias quanto aos métodos empregados pelos manicômios. Em 1979, surge o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental e, em 1987, o movimento antimanicomial.
A reforma psiquiátrica no Brasil foi apresentada em 1989, com o intuito de proporcionar tratamento ambulatorial do doente e hospitalização somente em casos reservados, e marcou o gradual fechamento dos hospícios. Já em 2002, o Ministério da Saúde brasileiro instaurou a criação de ambientes de acolhimento aos doentes mentais, os chamados CAPs (Centro de Atenção Psicossocial), visando o tratamento e reinserção do paciente à sociedade, oferecendo ao paciente um atendimento mais humanizado e com menos preconceitos.
REFERÊNCIAS:
BASTOS, O. The history of psychiatry and mental health in Brazil. Neurobiologia, p. 149-54, 1993.
BRASIL, Ministério da Saúde. 20 Anos Da Reforma Psiquiátrica No Brasil: 18/5 – Dia Nacional Da Luta Antimanicomial | Biblioteca Virtual Em Saúde. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/20-anos-da-reforma-psiquiatrica-no-brasil-18-5-dia-nacional-da-luta-antimanicomial/. Acesso em: 16 jun 2023
PEBMED. Psiquiatria: Atenção, Sensibilidade e Capacidade de Compreender o Diferente, 2017. Disponível em: pebmed.com.br/psiquiatria-atencao-sensibilidade-e-capacidade-de-compreender-o-diferente/. Acesso em: 16 jun 2023.
RIBEIRO, P. R. M. Da psiquiatria à saúde mental: esboço histórico. Jornal brasileiro de psiquiatria, v. 42, n. 2, p. 53-60, 1999.