Ginecologia e obstetrícia são as especialidades médicas que diagnosticam, tratam e previnem doenças e distúrbios do sistema reprodutivo feminino, além de realizarem promoção de saúde considerando as especificidades do corpo da mulher. Segundo as definições presentes no dicionário de língua portuguesa Oxford Languages, a ginecologia é a especialidade médica que se dedica ao estudo da fisiologia e da patologia do corpo da mulher e de seu aparelho genital, enquanto a obstetrícia é um ramo da medicina que se ocupa da gravidez, do parto e da evolução da saúde feminina no período imediatamente subsequente a ele.
Apesar das definições diferentes, as duas formam uma única especialidade. O desenvolvimento dessas duas ciências independentes e o momento de sua junção são melhor compreendidos quando narramos sua história por meio de uma análise bibliográfica.
A evolução da medicina, que possibilitou técnicas importantes como a assepsia e a anestesia no século XIX, foi impactante para a maioria dos campos da medicina e fundamental para o desenvolvimento da ginecologia e da obstetrícia. A ciência da obstetrícia exigia do profissional experiência clínica e habilidade para analisar e deduzir as queixas apresentadas pelas pacientes, enquanto a ginecologia, em seu início, tinha como um de seus focos a intervenção cirúrgica no que era específico do corpo feminino, aproximando-se, assim, das especialidades cirúrgicas, o que influenciou a separação das ciências e a constituição de dois campos distintos na medicina.
O cuidado com as doenças femininas apresentou grande desenvolvimento, principalmente nos EUA, sendo a Universidade da Pensilvânia a instituição pioneira na educação médica em 1791, e o primeiro departamento de obstetrícia foi estabelecido em 1810. O número de professores de ginecologia aumentou, e a maioria deles, antes de ser ginecologista, tinha formação em obstetrícia.
Considerando nomes importantes para esse desenvolvimento, podemos citar médicos como Ephraim MacDowell, que realizou a primeira cirurgia para extração dos ovários em 1809, e J. Marion Sims, que realizou a cirurgia de fístula vesicovaginal em 1849. A. M. Heath, em 1843, e C. Clay, em 1844, realizaram as primeiras histerectomias abdominais. Concomitantemente, ocorreram avanços e experiências marcantes para a especialidade na Inglaterra e na França.
A anestesia passou a ser utilizada nas cirurgias de ginecologia e obstetrícia após a administração de clorofórmio à Rainha Vitória para realizar um parto em 1853. Entre 1842 e 1846, Joseph Recamier, médico francês, contribuiu para o desenvolvimento da curetagem uterina e, consequentemente, para o conhecimento sobre a cavidade do útero. Ao analisarmos a história, percebemos que a ginecologia está diretamente relacionada aos avanços da obstetrícia. As cesarianas ganharam destaque no final do século XIX ao se beneficiarem da assepsia e da anestesia, diminuindo assim a taxa de mortalidade durante o parto.
No Brasil, as duas especialidades ganharam espaço juntamente com o movimento de ampliação das especialidades médicas. Com as reformas ocorridas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro nos anos de 1879, 1881 e 1882, foi criada a cadeira de clínica obstétrica e ginecológica, unindo as duas ciências em uma única cadeira. Posteriormente, a FEBRASGO foi fundada em 1959 com o objetivo de promover, apoiar e zelar pelo aperfeiçoamento técnico, científico e pelos aspectos éticos do exercício profissional de ginecologistas e obstetras.
Referências:
FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. A Febrasgo. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/institucional/a-febrasgo. Acesso em: 09 jun. 2022.
ROHDEN, F. Ginecologia, gênero e sexualidade na ciência do século XIX. Horizontes antropológicos, v. 8, p. 101-125, 2002.
SOUZA, L. V. D. Fontes para a história da ginecologia e obstetrícia no Brasil. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 25, p. 1129-1146, 2018.