A Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade médica que tem como principal objetivo oferecer cuidados abrangentes e continuados a indivíduos de todas as idades e diversas características, levando em consideração o contexto familiar, comunitário e cultural de cada paciente. Essa especialidade também é reconhecida por ter competência para liderar a aplicação da estratégia da Atenção Primária em Saúde.
O médico de família e comunidade considera os aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais e existenciais do paciente atendido e é capaz de investigar características sociodemográficas, econômicas, epidemiológicas e outros tópicos relacionados à comunidade, estabelecendo mecanismos de ação para manter a população saudável. Na prática, o profissional assume funções que envolvem administração, educação, docência e pesquisa.
A história da especialidade se inicia com as práticas de medicina no âmbito familiar, doméstico e comunitário, quando a própria especialidade ainda nem existia. Com o surgimento e a prática da Medicina Hospitalar e da Medicina Laboratorial, o foco na doença em vez do foco no indivíduo doente ganhou força. Em contraposição, há registros do movimento dos “clínicos gerais” no século XVIII, que afirmavam a necessidade e importância de tratar pessoas e não doenças, levando-os a se aproximarem das casas e familiares dos pacientes enquanto estivessem enfermos, oferecendo cuidado com certa proximidade e continuidade.
Posteriormente, no século XX, a industrialização e urbanização criaram um cenário propício para o surgimento de doenças “sociais”, como a tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis e outras epidemias. Passou a ser uma preocupação para o Estado e surgiu uma necessidade ainda maior de que os médicos atuassem diretamente no espaço social, inclusive visitando os pacientes e seus familiares em seus domicílios.
A lógica de ter a população e a comunidade como objeto de estudo e intervenção ganha força nessa situação. Inicia-se a estruturação de serviços primários de saúde que, posteriormente, se tornam a Atenção Primária em Saúde, representando uma organização e sistema nacional.
A primeira vez que o termo “Medicina de Família” foi oficialmente mencionado nos Estados Unidos foi em 1966, em um documento que incluía uma definição do médico de família como aquele que tem como foco o ser humano como um todo, que vive em um contexto complexo. No Brasil, o surgimento da Medicina de Família e Comunidade como especialidade médica teve início em 1970, juntamente com os programas de Medicina Comunitária formados por médicos de várias especialidades.
Apresentando uma sequência de acontecimentos que culminaram na especialidade como a conhecemos hoje, podemos citar, em ordem cronológica, a criação do Laboratório de Estudos de Medicina Comunitária na Unicamp em 1972, elaborando um programa de Centro de Saúde-Escola em Paulínia para execução do trabalho; a criação do projeto de Sistema de Saúde Comunitária em Porto Alegre-RS no ano de 1975 e a criação da Residência em Medicina Geral e Comunitária em 1979. Em seguida, ocorreram a criação de programas e residências em todo o país. A Sociedade Brasileira de Medicina Geral e Comunitária foi fundada em 1981 e a especialidade foi reconhecida por esse nome até 2001, quando ocorreu a mudança do nome da especialidade e da sociedade que a representa (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade).
Referências:
ANDRADE, H. S. D. et al. A formação discursiva da Medicina de Família e Comunidade no Brasil. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 28, 2018.
ARIAS-CASTILLO, L. et al. Perfil do médico de família e comunidade: definição ibero americana. Santiago de Cali: Confederação Iberoamericana de Medicina de Família e Comunidade, 2010.