A neurocirurgia é a especialidade médica que se dedica ao diagnóstico das doenças que acometem o sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal) e periférico (nervos e gânglios), bem como ao tratamento dessas doenças por meio de intervenção cirúrgica nessas estruturas nervosas. Algumas situações que requerem a atuação do neurocirurgião são enfermidades funcionais, como acidente vascular encefálico, lesões traumáticas, tumores do sistema nervoso, infecções, anomalias congênitas, entre outras. Esse profissional precisa ter conhecimentos técnicos de cirurgia, além de conhecimentos sobre neurologia clínica, trauma e exames de imagem para lidar com as demandas comuns desta especialidade médica.
A neurocirurgia existe há séculos e é uma das profissões mais antigas. Registros mostram que procedimentos de trepanação do crânio já eram realizados desde o período neolítico. Na Grécia antiga, era comum realizar dissecação da região encefálica e ensinar sobre neuroanatomia. Também eram empregadas técnicas para resolver fraturas, que eram comuns devido ao cenário de guerra. A dissecação foi bastante comum nos séculos XVII, XVIII e XIX, período de grande avanço na descrição das estruturas anatômicas do sistema nervoso.
No entanto, a neurocirurgia atual se consolidou nos séculos XIX e XX, após o desenvolvimento da anestesia, antissepsia e teoria das localizações cerebrais de Broca, bem como graças aos avanços de Victor Horsley e Harvey Cushing. Horsley, considerado o pai da neurocirurgia, realizou procedimentos como a remoção de tumores intracranianos, estimulação cortical operatória e estereotaxia, introduzindo técnicas minimamente invasivas, característica fundamental da neurocirurgia moderna. Cushing também desempenhou um papel primordial no desenvolvimento dessa especialidade, sendo o primeiro a utilizar radiografia craniana como método diagnóstico de tumores e a estimular o córtex sensorial por meio de estímulos elétricos (eletrocirurgia).
No Brasil, a neurocirurgia se desenvolveu plenamente no século XX, graças aos trabalhos de Augusto Brandão Filho e Egas Moniz. Brandão foi o primeiro médico a realizar cirurgias cerebrais que não fossem apenas para tratar traumas, buscando também tratar tumores e neuralgia do trigêmeo. Ele também foi o primeiro a realizar exames de imagem do sistema nervoso central, como ventriculografia e angiografia cerebral. No entanto, a neurocirurgia se estabeleceu como especialidade em 1928, após Antônio Austregésilo retornar de uma viagem aos Estados Unidos da América, onde presenciou os serviços de Cushing e Frazier. Foi após seu retorno que ele fundou o Serviço de Neurocirurgia e convocou Alfredo Alberto Pereira Monteiro e José Ribe Portugal para iniciar os procedimentos neurocirúrgicos no país. José Ribe Portugal, inclusive, fundou a primeira escola de neurocirurgia, localizada no Rio de Janeiro, sendo considerado o pioneiro da neurocirurgia brasileira.
Em 1957, durante o Primeiro Congresso Internacional de Cirurgia Neurológica, em Bruxelas, José Ribe Portugal e José Geraldo Albernaz fundaram a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), com o objetivo de organizar o treinamento de novos especialistas, liderar os já existentes e estabelecer relações com outras sociedades existentes. Atualmente, a SBN é considerada uma das principais sociedades formadoras de especialistas.
Com o avanço da tecnologia, essa área passou por grandes transformações em sua prática. Surgiu a neurocirurgia estereotáxica, que permite a realização de procedimentos minimamente invasivos, como biópsias, estimulação profunda do cérebro, ressecção e administração de medicamentos, com o auxílio de técnicas de imagem que permitem a visualização precisa da anatomia, facilitando a localização da patologia. Nos últimos anos, a robótica tem contribuído para o desenvolvimento dessa profissão em diversos procedimentos, promovendo uma grande evolução também no campo da neurociência.
REFERÊNCIAS
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