A oncologia clínica é uma especialidade médica que atua no cuidado integral de pacientes com câncer, possuindo um papel importante na prevenção, diagnóstico, monitoramento e tratamento dessa patologia. Esses profissionais também são responsáveis por determinar o estágio da doença e por planejar e prescrever todo o tratamento farmacológico desses pacientes. Dessa forma, com altos índices de incidência dessa doença em todo o mundo, o papel do médico oncologista tornou-se cada vez mais importante.
Os médicos especialistas em oncologia clínica têm um conhecimento abrangente sobre os diferentes tipos de câncer, bem como sobre os tratamentos disponíveis, incluindo quimioterapia, imunoterapia, terapia-alvo e radioterapia. Além disso, são capazes de trabalhar em conjunto com diversas especialidades, como cirurgia, patologia, psiquiatria, radioterapia e radiologia. O termo ‘câncer’ é originado do grego ‘karkínos’ e significa caranguejo, sendo utilizado pela primeira vez por Hipócrates para descrever lesões que não cicatrizavam ou nódulos enrijecidos como caroços tumorais que se espalham pelo corpo, fazendo referência à forma do crustáceo.
No cenário internacional, a especialidade de oncologia clínica começou a se desenvolver após pesquisas sobre a radiação, os elementos radioativos e sua aplicação realizadas pelo casal de cientistas Pierre Curie (1867-1906) e Marie Curie (1867-1934). Outro grande avanço ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, com base no uso do gás mostarda, que inicialmente era utilizado como arma química. Notou-se que os soldados que entraram em contato com esse gás apresentavam diminuição de linfócitos no sangue. Isso iniciou os estudos para o desenvolvimento das drogas quimioterápicas.
O aumento das taxas de câncer e a complexidade do tratamento impulsionaram o progresso na pesquisa contra a doença, aumentando a necessidade de especialização nessa área e o surgimento de diferentes organizações sobre o assunto, como a American Society of Clinical Oncology (ASCO) e a European Society for Medical Oncology (ESMO), que promovem avanços na oncologia clínica e fornecem suporte aos profissionais. No Brasil, o Instituto do Radium, hoje Hospital Borges da Costa, foi a primeira instituição voltada para pesquisa e tratamento de câncer, fundada em 1922 na cidade de Belo Horizonte-MG após receber tubos de Radium da própria Marie Curie.
Durante o período do governo de Getúlio Vargas, houve uma demanda da sociedade civil por ações de combate ao câncer. Em resposta a essas aspirações, o governo implementou uma política nacional dedicada ao controle da doença. Como resultado, o governo Vargas, orientado pelo Dr. Mário Kroeff, estabeleceu em 1937 o Centro de Cancerologia no Serviço de Assistência Hospitalar do Distrito Federal, localizado no Rio de Janeiro. Mais adiante, esse centro evoluiu para se tornar o renomado Instituto Nacional de Câncer (INCA) que conhecemos atualmente.
Atualmente, há duas sociedades altamente importantes e reconhecidas na divulgação dos trabalhos acerca do câncer e no avanço da especialidade. A Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC) surgiu em 1946, tendo o médico Mário Kroeff como seu primeiro presidente. Posteriormente, em 1963, foi criada a Sociedade Brasileira de Quimioterapia Antineoplásica, em Belo Horizonte. Embora suas atividades tenham sido interrompidas alguns anos depois, ela ressurgiu com o novo nome de Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) em 1981.
Na década de 80, a SBC criou a Comissão Nacional de Residência em Cancerologia Clínica, que desempenhou um papel fundamental na regulamentação da especialidade no país. Inicialmente, no ano de 2002, a Oncologia Clínica funcionava apenas como área de atuação da Cancerologia devido à ordem cronológica das sociedades. Entretanto, a partir do ano de 2017, foi reconhecida como especialidade médica pela Associação Médica Brasileira e pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).
REFERÊNCIAS:
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